O SUICÍDIO E A LOUCURA DO TRABALHO: o caso da France Telecom

Novo suicídio na France Telecom
DEU NO SITE IONLINE: por Margarida Bon de Sousa,  em 27.04.2011  
Um trabalhador da France Telecom imolou-se ontem pelo fogo em Bordéus. Trata-se de mais um acto de desespero num universo de cerca de 100 mil trabalhadores onde, entre Janeiro de 2008 e finais de 2009, se registaram 32 suicídios, muitos deles no local de trabalho. Um estudo do Observatório do Stresse e das Mobilidades Forçadas, formado por dois sindicatos do grupo, revela que já houve um segundo suicídio este ano, na residência de um trabalhador. Em 2010, aponta o mesmo organismo, foram registados 27 suicídios e outras 16 tentativas.
A direcção da empresa nunca forneceu números exactos sobre estes incidentes. O trabalhador que ontem se imolou no parque de estacionamento da agência de Márignac (arredores de Bordéus) tinha quatro filhos e foi forçado a mudar frequentemente de local de trabalho.
"Esta mobilidade imposta forçou-o a vender a casa. Escreveu por diversas vezes à direcção e não terá obtido resposta, como sucede em muitos outros casos", revelou à agência France Presse o líder sindical François Deschamps, do sindicato CFE-CGC-Unsa.
Em Setembro último, um outro trabalhador, Yonnel Dervin, apunhalou-se numa reunião em frente a 15 colegas. Dois meses depois, num depoimento que pode ser visto no YouTube, Yonnel justifica o gesto num trabalho intitulado: "Eles Destruíram--me: o Rolo Compressor da France Telecom".
Consultora não ajuda A France Telecom é a principal empresa francesa de telecomunicações e a 71ª companhia mundial. A empresa tomou a iniciativa de contratar uma consultora - a Tecnologia - para estudar mais detalhadamente as relações entre o trabalho e a saúde mental dos seus trabalhadores.
"Suicido-me devido ao meu trabalho na France Telecom. É a única causa", escreveu um dos trabalhadores que puseram termo à vida no ano passado. Tinha 51 anos. "Tornei-me um barco naufragado, é melhor terminar."
Os sindicatos atribuem este tipo de comportamentos, que continua a fazer vítimas, "ao período Lombard" - nome do antigo director-geral da France Telecom, Didier Lombard. Desig-nado presidente em 2005, Lombard cedeu em 2010 a direcção da empresa a Stéphane Richard, próximo da ministra francesa da Economia, Christine Lagarde, tendo o novo patrão sido incumbido da missão imediata de tentar por todos os meios possíveis pôr termo à vaga de suicídios - sem sucesso até agora.
Outro caso A Renault sofreu uma vaga de suicídios em 2007, tendo criado um plano anti-suicídio para empresas que inclui programas de gestão de stresse para gestores.

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