SAÚDE, VIDA E AMOROSIDADE: CONCEITOS E PRÁTICAS INTERDEPENDENTES

“O amor é, simultaneamente, a base do diálogo e o próprio diálogo” (Paulo Freire)

O Diário Oficial da União do último dia 20 de novembro de 2013 trouxe uma Portaria que instituiu a política nacional de educação popular em saúde, no âmbito do SUS,  delimitando as atribuições dos diferentes entes estatais em matéria de atendimento e incorporando um conceito novo ao serviço público de saúde. Trata-se do conceito freireano de amorosidade.
Segundo o Ministro da Saúde, Alexandre Padilha, "É a ampliação do diálogo nas relações de cuidado e na ação educativa pela incorporação das trocas emocionais e da sensibilidade, propiciando ir além do diálogo baseado apenas em conhecimentos e argumentações logicamente organizadas."
Freire diz que para ensinar ou para cuidar se exige amorosidade. Como esses ensinamentos são tão importantes no nosso cotidiano da saúde, num tempo em que as pessoas se amontoam nos corredores dos hospitais, num tempo em que os médicos não tem tempo sequer para conversar com os seus pacientes, num tempo em que os enfermeiros são obrigados a dar conta de números, de horas, de procedimentos. Portanto, mais revolucionário do que adotar o termo será dar corporeidade (outro conceito freireano) à palavra “amorosidade.”
Daí fica a lição de Freire no sentido de que o diálogo se constrói como uma mensagem profunda de amor:


O diálogo não pode existir, contudo, na ausência de um amor profundo pelas pessoas e pelo mundo. A nomeação do mundo, que é um ato de criação e recriação, não é possível se não estiver infundida de amor. O amor é, simultaneamente, a base do diálogo e o próprio diálogo... Uma vez que o amor é um ato de coragem, e não de medo, o amor é a entrega aos outros. Não importa onde se encontrem os oprimidos, o ato de amor é entrega à sua causa - a causa da libertação. E esta entrega, porque é amor, é dialógica. Enquanto ato de bravura, o amor não pode ser sentimental; enquanto ato de liberdade, não pode servir como pretexto para manipulação. Tem de gerar outros atos de liberdade; caso contrário, não se trata de amor. Só abolindo a situação de opressão é que é possível restaurar o amor que essa situação tornou impossível. Se eu não amar o mundo - se eu não amar a vida - não consigo entrar em diálogo”.


A amorosidade não pode ser apenas um conceito bonito ou uma palavra. Deve ser uma prática que desafia a adoção de um compromisso ético-afetivo cuja primeiro condição é o diálogo, isto é, a pedagogia da escuta. Afinal como posso cuidar do meu semelhante se sequer eu o escuto ou deixo de dar-lhe oportunidade para dialogar. 

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